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  • Foto do escritorDanilo España

O FRUTO, A FLOR, A CONCHA, O NÓ DA MADEIRA, AS ARTICULAÇÕES. O FANTÁSTICO MUNDO DE GAUDÍ


Faz muito tempo que queria conhecer Barcelona e finalmente foi durante o projeto Walk and Talk que que abracei a capital Catalã. Acho que na vida tudo tem seu momento certo e com certeza o impacto dessa cidade em minha vida alcaçou suas máximas pois agora sim estava preparada! Mais para frente vou me aprofundar em Barcelona em si, pra mim uma cidade em outra “dimensão”. Por ora quero focar na minha experiência diante dos legados do arquiteto modernista Antoni Gaudí (1852 – 1926), que através das manifestações de seu talento único me fez crer que todos os sonhos são possíveis e passíveis de serem realizados.


Mais do que qualquer conhecimento biográfico, histórico ou técnico, vou tentar aqui descrever o Gaudí que vi e senti, vou dizer da catarse pela qual passei ao acessar as obras e a mente desse que pra mim é mais do que um gênio imortal, é um mestre dos sentidos, um reprodutor do onírico e carpinteiro da natureza.



Nos primeiros dias em Barcelona optamos por seguir a rota Gaudí e fomos de ponto a ponto descubrindo esse universo singular. Vou começar pela Sagrada Família, sua obra sem fim, seu filho de muitos pais, seu templo para o infinito…


A catedral ícone da Espanha é mais do que um presente para sua pátria mãe, é uma obra que brinda todos os seres humanos pelo seu ineditismo, pelo transbordamento de criatividade, pela natureza transformada em geometria e matéria, e pelo espaço sagrado que nos permite mais do que a conexão com qualquer religião, nos permite religar com uma força divina que independe de nome e gênero.


Assim que entrei porta adentro senti como se tivesse transposto um “portal”, através do qual fui levada a outro conceito de forma, cor, textura, arquitetura e espaço. Ficamos mais de 5 horas dentro da Sagrada Família, na primeira hora eu e o Dan mal trocamos qualquer palavra tamanho maravilhamento em que nos encontrávamos. Depois da contemplação inicial fomos juntos investigando seus detalhes e pormenores.



No interior da catedral milhares de signos e símbolos pediam atenção, nos perdemos no tempo tentando interpretá-los. As altíssimas colunas em forma de grandes troncos de árvores, seu teto decorado e a luz colorida que ganha vida através dos modernos vitrais nos deu a sensação de estarmos em meio à uma floresta … floresta dos nossos sonhos de infância. O onírico vira realidade bem diante de nossos olhos e custamos a entender como todas aquelas inúmeras formas raras podiam sustentar o tamanho e o peso da imponente catedral.

Gaudí sem dúvida estava à frente de seu tempo e acho que ainda hoje não conseguimos “tocar” 100% de sua genialidade. Um dos pilares de sua obra foi a observação da natureza e suas formas, traduzidas com excelência em quase todos os macro e micro detalhes. Ossos, articulações, o fruto, a flor, a semente, a folha, o ninho, o nó da madeira, a concha do mar … tudo está presente em inúmeras leituras e releituras.


As obras da Sagrada Família começaram em 1882 quando o arquiteto tinha 31 anos. Gaudí trabalhou incansáveis 40 anos em sua obra e morreu sem ter visto sua conclusão. Seu filho pródigo foi passado aos cuidados de muitos pais: arquitetos, engenheiros, artistas e obreiros que hoje se empenham em concluí-la. A data está prevista para 2030 quando um novo ciclo começa, o de manutenção, como muitos afirmam ela nunca deixará de ser tocada, num ciclo infinito… Fico imaginando o quebra-cabeça enfrentando pela sofisticada equipe de construção decifrando os comandos e diretrizes que o grande mestre deixou.


O tempo que passamos na Sagrada Família explorando em detalhes seu interior, exterior e seu museu foi algo único que tentarei manter sempre na mente e coração. Depois vieram La Pedrera, Casa Batló, o Parque Guell, a Casa Vicens e todos os livros e fotos e outras obras… enfim, cada obra uma revelação, um carinho aos sentidos!! A Casa Batló sem dúvida entrou pra lista de minhas queridinhas. A Casa Batló é mais do que uma casa e sim um edifíco reformado por Gaudí no início do século XX e de propriedade do industrial José Batló Casanovas. Foi dado ao arquiteto liberdade de criação e assim Gaudí pôde explorar mais uma vez sua criatividade única, trazendo a natureza e também o estilo barroco ao edifício. A família viveu no local até 1950 e o imóvel hoje é preservado pelos herdeiros que cuidam dessa jóia com esmero e dedicação.



Na Casa Batló fica claro que a genialidade de Gaudí transpunha as grandes formas também tocando o universo minimalista e funcional. O mestre não só desenhava a arquitetura de suas obras como desenhava também todo o seu interior passando por movelaria, iluminação, revestimentos, acessórios e seus belíssimos trabalhos em mosaico, ferro e madeira.

Até puxadores de armário ou maçanetas de portas eram pensadas ergonomicamente e mais uma vez era a natureza que lhe dava as chaves para a perfeição de tudo o que criava. Na Casa Batló o balcão da sala principal, muito usado pelas famílias abastadas do início do século passado, apresenta um mecanismo de janelas e vidros totalmente inovador e singular. Acho que é um trabalho quase em vão tentar descrever todos os ambientes e móveis projetados pois nenhuma palavra que encontre para ilustrar pode ser fidedigna ao que meus olhos viram e sentiram.



Seria injusta em não fazer uma menção ao edifício La Pedrera, quase vizinho da Casa Batló e onde também fui levada à outro universo. Gaudí quebrou muitos conceitos no que diz respeito a viver e coexistir em um espaço físico. A vista do atrium do edifício, o último andar, onde hoje está instalado um pequeno museu e o terraço superior são de uma maestria que só ele poderia executar. O Parque Guell teremos que explorar em outra matéria, pois Gaudí não cabe em apenas um post…



… Gaudí, Gaudí, Gaudí… pela primeira vez vi diante de meus olhos um universo realmente onírico podendo ser tocado, guardadas as devidas proporções seria como materializar em formas as cenas desenhadas por Salvador Dali ou Bosh. O legado desse mestre foi fruto de muita inspiração, transpiração, excelência, investigação e acima de tudo confiança em seu talento e criação. Essa “experiência” me ensinou que quaisquer sonhos, até os mais complexos e inusitados podem transmutar-se encontrando seu espaço na mais pura realidade.


Por Luah Galvão



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