Em qualquer “viagem” o que importa é estar de peito aberto para o inesperado. Por exemplo receber um beijo de um elefante sem esperar…
Quantas e quantas vezes na vida temos que mudar nossos planos, sejam eles na vida pessoal ou profissional?! A vida é uma ciranda orgânica que nunca para de girar e sendo assim, nunca sabemos quando e onde tudo aquilo que tínhamos organizado anteriormente deverá passar por uma alteração.
Numa viagem não é diferente. Sempre digo pra todos que nos perguntam sobre nosso planejamento: as coisas na vida real são totalmente distintas do papel. Um dia ouvi de um amigo que o papel aceita tudo e descobri na volta ao mundo que aceita mesmooo, o problema é implementar no dia-a-dia aquilo que está escrito.
Aqui já vai minha primeira dica tanto para qualquer viagem como para a “viagem” da vida em si: “O negócio é não se estressar e estar sempre de peito aberto para as situações que a vida ou a viagem nos apresentam”. É inevitável planos caírem por terra assim como é absolutamente fantástico passar por situações completamente novas e inesperadas quando não se tem nenhuma expectativa sobre as mesmas.
Cena comum da viagem: mapas, informações e muitas mudanças de planos…
Perdemos a conta de quantas vezes tivemos que mudar nossos planos e alterar nossa rota nos mais de 2 anos de viagem. As mudanças foram tantas que quando as “águas” ficavam calmas demais parece que perdíamos até o frisson. Calmaria em excesso causava em nós uma certa monotonia, rsrsrs
Saímos do Brasil com uma rota pré-estabelecida meticulosamente organizada, mas quem é que poderia imaginar por exemplo, que a crise européia estouraria bem na metade do primeiro ano da nossa viagem, assim como o mundo árabe ficaria de cabeça para baixo na fomosa passagem chamada de “Primavera Árabe”?! Só esses 2 fatos causaram uma série de mudanças em nossa rota. Bem no momento em que estávamos à caminho da Grécia, vários aeroportos assim como bancos, museus, etc… foram fechados e as pessoas tomaram as principais praças da capital grega para protestar contra as medidas impostas pela União Européia. Desviamos então desse que seria um dos nossos pontos altos da viagem, afinal o estudo da civilização helênica (Grécia –secs XV a V a.c.) foi base e inspiração para o projeto. E a Grécia não foi a única cortada à duras penas do nosso trajeto, A Tunísia e o Egito também entraram na lista, justamente pelo levante que comentei acima. Pra dizer que não pisamos em solo egípcio, passamos 15 horas no aeroporto do Cairo, foi uma noite longaaaaa e dura nas cadeiras do saguão principal.
E depois de 15 horas no aeroporto do Cairo o dia raiou…
Na época tínhamos a passagem Volta ao Mundo ainda válida e não podíamos trocar os destinos escolhidos previamente, então o negócio foi nos ajeitarmos pelo aeroporto mesmo e aguardar o dia seguinte para embarcar novamente com aquela cara de noite varada. O clima na época estava meio tenso mesmo tanto é que a polícia de imigração egípcia segurou nossos passaportes até o momento do embarque, e os moçoilos de grandes narizes e peles escuras a la Omar Sharif, fizeram pirraça na hora de devolver os únicos documentos que nunca poderiam ter se afastado de nós: nossos passaportes. Por quê?! Não entendemos até hoje…
Outras mudanças de planos também aconteceram, mas dessa vez foram para somar. Acabamos acrescentando na nossa rota lugares como o Laos, Cingapura, Malásia, País de Gales, Luxemburgo, México, Holanda, etc… alguns porque já estávamos tão perto que valeu a esticadinha, e outros porque nos indicaram tanto que acabamos não conseguindo resistir. Viajantes uma vez na estrada tem o mundo nas mãos e é quase impossível resistir tocar em mais um novo território.
Ficamos impressionados com a quantidade de bikes na estação Central de Den Haag | Holanda – país que acrescentamos na rota.
Nossa viagem que teria aproximadamente 7 meses de duração, rapidamente se transformou em mais de 2 anos e caso fôssemos herdeiros, com certeza teria data totalmente indefinida para o ponto final. É muito bom estar na estrada mas sempre lembramos que ser viajante é quase uma profissão, quem não tem vocação ou talento para a coisa não passa da viagem de férias. Aliás, as férias nada tem a ver com uma viagem como a nossa onde abrir mão das coisas vira quase um lema, um hino diariamente cantado em altos brado. Sabíamos que teríamos a vocação de “viajantes” antes?! Suspeitávamos, mas a comprovação só bateu mesmo quando a viagem foi ganhando corpo e o tempo foi passando.
Pra resumir a história de hoje, quanto mais estamos presos à formas estabelecidas menos orgânica vira a vida e por consequência a viagem. Planejar é fundamental para o bom andamento de qualquer projeto, mas saber encarar as mudanças quando elas são necessárias e assumir que a “rota” precisa ser recalculada é essencial para qualquer destino dessa vida, mesmo que não seja um destino turístico.
Já escrevemos vários posts contando como conseguimos nos manter financeiramente tanto tempo viajando, os choques culturais, perrengues que passamos, etc. Então, quem curtiu embarcar na nossa mochila, vale dar uma olhadinha em outras matérias:
Por Luah Galvão
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