Hoje vamos falar sobre sobre 3 amigos argentinos que conhecemos assim que ingressamos em Macchu Picchu.
Foi fácil notar os 3 na “Cidade Perdida”, brincavam e riam entre si como adolescentes, o sotaque, típico argentino, ecoava pelos 4 cantos. Quando souberam que éramos do Brasil, o amor foi à primeira vista. “Vizinhos!!” – nos disseram e começaram um papo que terminou muitas horas depois.
Raul Franco, Daniel Romero e Carlos Aquino são de Corrientes e se conhecem há muitos anos. Faz um tempo instituíram uma tradição: uma vez por ano viajam juntos de carro, saindo sempre da Argentina em direção a um novo destino. Dessa vez resolveram ir ao Perú. Pra eles a curtição começa na estrada, atravessando paisagens múltiplas enquanto colocam o assunto em dia e falam da vida. Essas viagens funcionam como uma espécie de “oxigenócio” para recarregar as baterias.
Dois são separados, o outro casado, mas independente da situação de cada um, são fiéis ao trato dessa ação entre amigos. Fazia tempo que queriam ir ao Perú, mas como a jornada exigia tempo e planejamento, acabaram escolhendo primeiro roteiros mais próximos. A jornada desse ano pra eles, tinha um significado mais especial do que chegar em Macchu Picchu…
Nos contaram que passaram dias atravessando paisagens maravilhosas até chegar às terras peruanas. Em um mesmo dia atravessaram altitudes completamente diferentes que iam dos 1000m acima do nível do mar aos quase 5000m. Uma loucura para aqueles que não estão acostumados. Foi um tal de um passa mal e o outro segura as pontas, muita folha e chá de coca e um acordo afinado no revezamento da direção. Só assim conseguiram atravessar as grandes distâncias do percurso. Como toda turma de amigos que se preze, piadinhas sobre o melhor e pior motorista e sobre os roncos no banco de trás não faltaram no relato.
Percorremos Macchu Picchu juntos, subindo e descendo as impressionantes vielas incas, passando por construções impressionantes. O calor era intenso e úmido, a altitude e as inúmeras escadarias da cidade perdida já nos pediam por um basta. A fome começou a bater. Tínhamos levado algumas frutas na mochila mas chegamos a conclusão que não seriam suficientes para enganar o corpo cansado. Acabamos decidindo descer juntos para comer em Águas Calientes – cidade base para a subida até Macchu Picchu. Enquanto Daniel e Raul resolveram ir para as termas de Águas Calientes, nós e Carlos buscamos um canto para comer.
Carlos é professor universitário e pai de um casal de jovens. Seu filho em um certo período de férias, cruzou as fronteiras em direção à Florianópolis, conheceu uma brasileira, se apaixonou e nunca mais largou seus vínculos com o Brasil. Carlos, que já tinha uma afinidade especial com o país, também aumentou seus laços, ainda mais depois que sua netinha nasceu. Confessou amar o Brasil e sabe mais sobre nosso país e cultura do que muitos brasileiros.
Apesar de toda leveza, bom humor e empatia, Carlos já havia passado por momentos de vida bem difíceis. Primeiro veio o processo de separação e menos de 2 anos depois, seu filho, que tinha acabado de ser pai, descobriu um tumor na cabeça. Deram pouco tempo de vida para o jovem. Desesperado, Carlos buscou no Brasil e na Argentina especialistas que pudessem ajudar o filho.
Encontraram uma terapia alternativa no sul do Brasil e apostaram todas as fichas. Enquanto isso, seu filho, com medo de morrer sem que sua filha bebê pudesse saber quem era, começou a escrever cartas. Cartas e mais cartas, todos os dias, contando histórias para que a menina pudesse ler no futuro. Foram centenas de cartas de amor escritas enquanto mergulhava de cabeça no tratamento. A vontade de viver era tão imensa, que contra todas as previsões médicas, milagrosamente o tumor começou a reduzir. Os olhos de Carlos marearam ao nos contar que recentemente seu filho tinha feito novos exames que confirmavam sua melhora. Era uma vitória depois de tanto tempo de angústias, incertezas e tanta resiliência. Nos emocionamos juntos com a história e agradecemos por compartilhar o relato.
A viagem esse ano representava mais do que uma jornada de férias ao Perú, era uma verdadeira ação entre amigos em busca da celebração da vida.
Macchu Picchu, que mais parece um milagre diante dos olhos, nos brindou com uma história igualmente surpreendente… esse dia nos conectou com a força e as crenças humanas. O ser humano realmente tem em si uma potência, que usada com sabedoria, ergue maravilhas perdidas, cria vida, gera a cura.
Por Luah Galvão
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